domingo, 31 de março de 2013

Ferrovias "apertadas" I - A Mogiana


Escolhi a famosa Mogiana para iniciar a série sobre ferrovias de traçados que garantem inspiração para maquetes de pouco espaço. A ideia não é se aprofundar em detalhes na história da mesma, apenas apresentar um pequeno panorama dessa estrada de ferro e seus simpáticos trens. Criada em 1872, a Companhia Mogiana  de Estradas de Ferro - CMEF - ligava o interior de Minas Gerais e São Paulo à linha da Companhia Paulista na cidade de Campinas, que por sua vez se unia à São Paulo Railway em Jundiaí e seguia para o porto de Santos, escoando a produção nacional de café daquelas regiões.

Barracão da oficina da Companhia Mogiana de E. F., em Campinas - SP.        

Construída de maneira econômica, o que no Brasil era regra ao invés de exceção, fora construída em bitola (distância entre as duas barras metálicas do trilho) de 1 metro, ao invés de 1,60m da Companhia Paulista e da SPR, de modo que toda carga que era transportada para Santos tinha de fazer transbordo (mudar de vagões) em Campinas, processo caro, trabalhoso e muito demorado. Assim como muitas grandes ferrovias brasileiras do tipo, como a Estrada de Ferro Leopoldina e a Rêde Mineira de Viação, a Mogiana acabou ao longo do tempo incorporando várias outras pequenas ferrovias "cata-café" que faziam ligação com a mesma, e que por falta de um planejamento abrangente seguiam rumos diversos, dando um aspecto difuso à forma da rede ferroviária da companhia.


Outro fato era que tais ferrovias, por serem secundárias desde seu início, apresentavam traçados ainda mais modestos do que o da linha-tronco da Mogiana, que por sua vez já era bem precária. Exemplo disso era a Estrada de Ferro São Paulo - Minas, cujo traçado original era de bitola 60cm! Mesmo tendo essa ferrovia alargado sua bitola para poder se conectar melhor, ela apresentava toda uma infraestrutura típica de uma mini-ferrovia de 60cm, com trilhos leves e curvas muito apertadas, formando uma combinação de trechos sinuosos que só podiam ser percorridos por trens leves de vagões pequenos.


Em seu apogeu, a Companhia Mogiana chegou a ter cerca de 2000 Km de linhas, e em toda sua extensão ela apresentava esse aspecto extremamente sinuoso e incompatível com trens pesados, além de não ter trecho algum duplicado, apenas pátios de manobras e cruzamento para os trens na estações. Sua linha tronco ia de Campinas, em São Paulo, à Araguari, em Minas Gerais, onde se conectava à Estrada de Ferro Goyaz, que atuava como sua extensão até o estado que cedia o nome à companhia. Mas essa não era a única ligação com Minas, uma vez que a aquisição de outras ferrovias lhe garantiu várias ligações, como os ramais de Muzambinho, Passos, Itaú de Minas e Sapucaí.

Rotunda da Mogiana em Campinas.

O material rodante da Mogiana era extenso, uma vez que absorveu também o das outras companhias. Devido à natureza das locomotivas à vapor, por sua particular construção que atende a encomendas específicas dos compradores, não apresentam modelos padronizados, sou incapaz de listá-los devido à complexidade. O que posso dizer é apenas que eram máquinas leves e pequenas, com exceção das Mallets articuladas. Ela também foi a primeira ferrovia do Brasil a comprar modelos Beyer-Garratt, para tracionar trens expressos de passageiros. Todas queimavam lenha, devido à indisponibilidade de carvão, e posteriormente algumas foram convertidas para queimar óleo.


Locomotiva 267 posando no girador da rotunda de Campinas.

Locomotiva articulada modelo Beyer-Garratt

Locomotiva 765 recém-convertida para queimar óleo

A partir da década de 1950, quando começaram a pipocar aqui e ali as locomotivas a diesel, e em 1952 a Mogiana comprou as suas primeiras, que eram 12 pequenas locomotivas derivadas de uma parceria GE e Cooper- Bessemer. Posteriormente adquiriu 30 locomotivas do famoso modelo G12 da EMD, as primeiras do país. Porém seu peso de 20 toneladas por eixo era considerado muito alto para os padrões da ferrovia, e as impossibilitavam de percorrer toda a extensão das linhas, o que fez com que a Mogiana comprasse um modelo mais simples e leve da EMD, que usava boa parte das peças da G12: as também famosas GL8. As LEW recebidas da Alemanha e as levíssimas ALCo. RDS-8 adquiridas da Companhia Paulista completavam o parque de tração a diesel da CMEF, constando então de um total de cinco modelos diferentes, até sua incorporação à FEPASA em 1971. Época essa aliás que, quase um século depois, colocava-se em prática por parte do governo uma radical intervenção a fim de remodelar completamente a linha tronco, além de suprimir os ramais não lucrativos da estrada de ferro.

Cooper-Bessemer, primeiro modelo diesel da Mogiana.

Locomotiva G12, ainda no pátio da fábrica da EMD.

Locomotiva LEW recebida da Alemanha.

RSD-8 ex-Companhia Paulista.

Locomotiva GL8, ao fundo locomotiva a vapor.


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