domingo, 17 de março de 2013

As "lobas" da E. F. Sorocabana



Nesta postagem, falarei sobre uma famosa série de locomotivas, com um grau de parentesco próximo em relação às “V8” e às “Escandalosas”, (temas de minhas duas últimas postagens) e que foram ícones da tração elétrica em bitola métrica.
Sua história começou quando a E. F. Sorocabana resolveu eletrificar suas linhas, isso em plena 2ª Guerra Mundial, e foram entregues mesmo sob o risco das embarcações que as traziam serem afundadas por submarinos alemães, o que miraculosamente não ocorreu, e conseguiram chegar todas as 20 locomotivas em total segurança ao Brasil.



Das vinte unidades, 10 foram encomendadas à GE e 10 à Westinghouse, mas com os equipamentos mecânicos feitos exclusivamente pela GE. Posteriormente, com os resultados satisfatórios, foram encomendadas mais 15 à GE. Tinham 2000HP de potência, sendo as locomotivas de bitola métrica mais potentes da época. A General Electric chegou a considerar o uso de carenagens aerodinâmicas para as locomotivas elétricas destinadas à E.F. Sorocabana. Essa era uma abordagem muito em voga na época, como era o caso das locomotivas elétricas “V8” da Companhia Paulista, pois apresenta diversas vantagens, a começar pela redução do consumo de energia e aumento da velocidade dos trens, ao minimizar a resistência do ar ao avanço da composição. Mas isso não foi possível no caso das Lobas, pois o comprimento da carenagem estava rigidamente fixado pelas especificações da E.F. Sorocabana. E era impossível, dentro das dimensões estabelecidas, colocar todo o aparelhamento de controle e auxiliar mais o acabamento aerodinâmico nas extremidades da máquina.

A solução foi adotar uma carenagem semi-aerodinâmica com superfície lisa, suprimindo-se o uso de rebites através do uso intensivo de solda elétrica, um processo ainda muito novo na época. As rodas da locomotiva foram mantidas expostas para facilitar o acesso nas operações de inspeção e manutenção. Devido à grande quantidade de curvas de pequeno raio, típicas da via permanente da E.F. Sorocabana, e a necessidade de se minimizar os desgastes do aro determinou a adoção de um rodeiro de guia em cada extremidade da locomotiva. Ou seja, foi adotada a disposição 1-C+C-1.

Elas foram as únicas locomotivas elétricas da Sorocabana até o final dos anos 60, quando foram adquiridas 30 locomotivas de 1800HP, fabricadas pela unidade da GE em Campinas, São Paulo. A pouca quantidade de locomotivas elétricas se deu devido à chegada das diesel-elétricas, que embora a manutenção fosse mais cara, tinham maior versatilidade, pois não precisavam de rede aérea.



Com o fim da Sorocabana, foram incorporadas à Fepasa, e continuaram tracionando trens de passageiros e cargas pela região Sudoeste e Oeste de São Paulo até a chegada da Ferroban, quando foram aposentadas, em 1999. Curiosamente, pelo menos até dezembro de 2001 três locomotivas Lobas (#2006, #2013 e #2017) ainda foram vistas tracionando trens de carga entre São Paulo e Amador Bueno. Em outubro de 2002 a #2017 comprovadamente tornou a ser vista em operação, ainda que com sua caixa totalmente pichada. A ALL (América Latina Logística, atual concessionária das linhas da Sorocabana) chegou a reformar duas, mas o projeto não foi adiante. Parece que o fim delas será o mesmo das suas primas “V8’s” e “Escandalosas”: o lixo...

Mais algumas fotos das Lobas:

2 comentários:

  1. trabalhei muitos anos com elas, nunca imaginei que um dia elas fossem virar velho velho, jogadas no tempo, como se nunca tivessem servido pra nada, lastimável, só restam saudades daqueles bons tempos da Barra Funda que hoje nao existe mais... ex funcionário da EFS e FEPASA depois dos anos 70.

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    1. E o pior de tudo é que não só elas, como a malha quase toda da EFS está precária e subutilizada, com exceção do corredor de exportação, e sem previsão de dias melhores... Lastimável!

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