domingo, 17 de março de 2013

As "V8" da Companhia Paulista


Eis um dos maiores clássicos ferroviários nacionais, uma legendária locomotiva elétrica que ainda hoje impressiona velhos e novos amantes de ferrovias: um monstro de 3800 HP, rodagem 2-C+C-2, mais de 23 metros de comprimento e um inconfundível perfil aerodinâmico: as famosas “V8”, fabricadas nos Estados Unidos pela General Electric.

Seu apelido deriva do formato de seu friso, que se alargava nas regiões frontais da locomotiva para poder acomodar o legendário logotipo da CP. Essa região do friso lembrava muito um decote feminino muito em voga na década de 1940, cujo nome popular era V8. Esta locomotiva tornou-se um arquétipo da sofisticação técnica da Companhia Paulista e um verdadeiro símbolo das ferrovias brasileiras, tendo sido sistematicamente empregado como símbolo de excelência nas propagandas da General Electric, seu fabricante:



Seu formato externo é quase idêntico ao da locomotiva elétrica EP-4, fornecida pela mesma empresa para a ferrovia americana New York, New Haven & Hartford no final da década de 1930. Contudo, a semelhança se resume somente ao aspecto externo, uma vez que o sistema elétrico da EP-4 era totalmente diferente do instalado nas V8. As EP-4 podiam operar com dois sistemas elétricos: por catenária (11 kV, corrente alternada monofásica) e por terceiro trilho (600 V, corrente contínua), enquanto que a V8 somente era alimenta por catenária de corrente contínua, 3 kV.


A Companhia Paulista comprou no total 22 locomotivas V8. Infelizmente a II Guerra Mundial atrapalhou a entrega dessas locomotivas: somente quatro delas chegaram em 1940, outras dez chegaram em 1947 e as oito restantes em 1948. Ao contrário do que ocorreu com a E.F. Sorocabana, as restrições decorrentes do conflito tumultuaram o programa de eletrificação da Companhia Paulista. Seus componentes foram desembarcados no porto de Santos, sendo transportadas em vagões plataforma especiais até a oficina de Rio Claro, onde foram montadas.


Quando as 4 primeiras chegaram, foram apelidadas de Paulistinhas, mas após a chegada das outras, esse apelido foi sendo cada vez menos utilizado, sendo substituído pelo V8. As principais diferenças visuais dessas 4 primeiras para as outras eram o engate, modelo europeu ainda, por gancho-e-corrente, os para-choques e a pintura verde-oliva.

Abaixo, as Paulistinhas:



Essas maquinas tiveram ao todo cinco padrões de pintura:

 * O verde oliva com frisos metálicos;
 
  • O azul-colonial com laterais brancas;

  • O azul colonial com faixas brancas por todo corpo na Fepasa fase I;

  • O vermelho e branco da pintura Fepasa fase II;

  • O branco com faixas pretas e vermelhas da última pintura da Fepasa.


Elas prestaram ótimos serviços na Companhia Paulista, puxando desde trens de carga até o famoso “Trem R”, ou “Trem Azul”, fazendo expressos de passageiros que “voavam” a 120Km/h em plena década de 50, e com confortos de fazer inveja aos meios de transporte atuais (como restaurante, camas, e até chuveiro elétrico).



Com a estatização da CP, passaram a fazer parte da FEPASA, mas ainda prestando seus ótimos serviços, sempre sendo admiradas pela população pela beleza de seu design arrojado. Inclusive o recorde nacional de velocidade ferroviário pertence a uma delas (164Km/h) :



Infelizmente, todas foram desativadas no final da década de 90 com o processo de privatização da Fepasa, pela Ferroban. Algumas foram tombadas e ou vandalizadas, tendo instalações elétricas furtadas, principalmente em Araraquara e em Bauru, (Triagem Paulista). Atualmente apenas uma locomotiva se apresenta completamente funcional, pois foi recuperada pela Associação Brasileira de Preservação Ferroviária (ABPF) e repintada com as cores da CP, tendo inclusive aparecido em uma novela da Rede Globo (Ciranda de Pedra).


Abaixo, mais algumas fotos:








Miniatura em escala 1:87 (HO), fabricada pela Frateschi:

5 comentários:

  1. Muito lindas belas máquinas imponentes. Me recordo quando criança de ir a beira da linha para ver a mesma passar deslumbrante. Sua buzina a diferenciava das demais não muito apreciado por mim. Mas de fato sabia q vinha ali a mais bela máquina aerodinâmica q avia no momento na quela década. Parabéns Matheus

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  2. Lembranças eternas, maravilhosas viagens nos trens R da Cia Paulista, visualizando a frente dos vagões a maravilhosa locomotiva V8 desbravando o interior paulista.

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  3. Lembranças diversas da minha infância, viagens partindo da estação da luz em direção ao interior nos luxuosos trens da Paulista, rebocados pelas maravilhosas V8 era um sonho. Infelizmente desmontado pela, incompetência desses governos corruptos.

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