terça-feira, 16 de abril de 2013

O hangar do Zeppelin

O hangar e o Zeppelin, tudo com dimensões gigantescas.

Na apresentação eu havia dito que nem só de trens seria esse blog, embora eles logicamente sejam o assunto principal. Essa postagem tem um caráter especial, pois tratará sobre um lugar que vi com meus próprios olhos, portanto diria que "fiz uma pesquisa de campo".

Costumo sempre dizer que há três espécies de veículos que, em terra, céu e mar se tornaram ícones atemporais: as locomotivas à vapor, os dirigíveis e o grandes veleiros, respectivamente. Não importa se esses tipos de meios de transporte já não fazem mais parte de nosso cotidiano seja há cinquenta ou duzentos anos atrás, eles continuam sempre a nos impressionar quando estamos diante deles.



Dentre os três, as enormes máquinas voadoras, infladas de gás hélio e em formato de charuto foram as menos comuns, mas ao meu ver as mais impactantes. Se visualizar um veículo do tamanho de um navio deslizado suavemente pelos ares já era impressionante na época, imaginá-los hoje em dia beira o surreal. E tive o prazer de curiosamente topar com a história deles de uma maneira um tanto incomum. Enquanto percorria pelo Google Earth o ramal de Santa Cruz da Central do Brasil, a fim de encontrar em sua ponta o ramal circular do matadouro, percebi o traçado de um antigo leito há muito desativado. Seguindo-o, cheguei à base aérea da FAB no local, e a primeira coisa que notei fora a enorme estrutura alongada, um hangar de dimensões descomunais.

A grandiosidade do edifício é absoluta no pacato bairro de Santa Cruz.

Portões principais. Cada uma das duas folhas do portão pesam 80 toneladas.

O hangar de Santa cruz é sem dúvida mais uma daquelas inúmeras relíquias históricas que passam anônimas no Brasil. Idealizado desde o início dos anos 30 pelos engenheiros alemães, a fim de consolidar as viagens transatlânticas de dirigíveis entre a Alemanha e o Brasil, o hangar só foi de fato inaugurado em 1936. Medindo, de acordo com os dados disponíveis, o total 274 metros de comprimento por 58 de altura e 58 de largura, a enorme estrutura foi toda trazida da Alemanha, como um enorme kit para montar (marca dos alemães esses tipos de kit, exemplo semelhante é a estrutura da estação Roosevelt, a estação final da Central do Brasil em São Paulo, que foi fabricada pela Junkers, aquela dos famosos aviões da Segunda Guerra Mundial).

Expresso especial da Central do Brasil, que fazia ligação direta entre a base e a estação D. Pedro II.

Infelizmente, a colossal estrutura teve vida efêmera quanto à sua atividade original. Funcionou até o ano seguinte, e realizaram-se apenas nove viagens, sendo quatro realizadas pelo Hindenburg e cinco pelo Graf Zeppelin. A tragédia com o Hindenburg marcara o fim do uso comercial dos dirigíveis, considerados perigosos por serem inflados com gás inflamável. Mas isso não significa que essas foram as únicas viagens de dirigível feitas para o Brasil, pois o Graf Zeppelin já fazia voos regulares desde 1930. Terminada de forma dramática a romântica era dos dirigíveis, o hangar serviu de base aérea para os aviões brasileiros na Segunda Guerra, e também como base para os blimps, balões de observação da marinha americana utilizados para patrulhar a costa brasileira. Atualmente está muito bem conservado, e faz parte da mais importante base da aeronáutica, e do maior complexo aerotático da América Latina.

O Hindenburg, maior objeto voador até então, com os emblemas das Olimpíadas de Berlin, 1936.

Restaurante do Hindenburg. Luxo sóbrio no interior do veículo.

Fui à Santa Cruz na esperança de poder vê-lo, e não me decepcionei. Da própria estação de trem, já é fácil visualizar o enorme galpão que se ergue majestosamente no horizonte, distante cerca de 3 quilômetros a sudoeste dali. Contrastando com o resto do bairro, formado por edifícios baixos, o enorme hangar sem sombra de dúvida domina o cenário, e é literalmente o maior ícone do local. Desde pequeno eu já ouvira falar das histórias do grande dirigível Hindenburg, e que tivera tão trágico destino. Saberia eu anos depois que ele fez parte também da história do Rio de Janeiro e do Brasil. A volta para casa foi acompanhada inevitavelmente de um enorme saudosismo, sensação essa que creio ser impossível de não se experimentar olhando o velho hangar.

Hindenburg no chão, e Graf Zeppelin voando. As duas grandes estrelas.

Na Praça Tiradentes, centro do Rio. 

Viagem de volta à Alemanha, passando pelo Rio de Janeiro.

Auf wiedersehen, Zeppelin...






4 comentários:

  1. concordo plenamente que os dirigiveis sao figuras iconicas nos ares, pena que acabou, queria dar uma volta no zeppelin e provar a comida a bordo!. Impressionante a segunda imagem...

    ResponderExcluir
  2. Sempre tive uma grande admiração pelos dirigíveis, e o hangar de Santa Cruz é, definitivamente, uma das construções de grandes dimensões que mais me impressionaram na vida.
    Apenas uma observação sobre seu texto: apenas dirigíveis modernos usam gás hélio. Todos os antigos dirigíveis, como o Hindenburg e o Graf Zeppelin, usavam hidrogênio, que é altamente inflamável.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Gil, também me admiro muito com essas máquinas voadoras, suas dimensões colossais impressionam até hoje. Quanto ao hélio, ele já era usado sim, inclusive os dirigíveis Akron e Macon eram inflados por hélio, sendo apenas 6 metros mais curtos que o Hindenburg, e eram projetos do começo dos anos 30. O próprio Hindenburg era adaptado para ambos os gases, mas o hélio era de monopólio comercial dos EUA, que além de caro, realizava boicotes à Alemanha, por isso sempre utilizaram hidrogênio nele.

      Excluir