FA-1 tracionando o Vera Cruz.
Durante a era das locomotivas a vapor, no século XIX, havia
nos EUA um grande fabricante: a Baldwin Locomotive Works. Nenhum fabricante de
locomotivas no mundo daquela época fora tão grande e vendera tanto. Há quem
diga que quase 80% das locomotivas a vapor vendidas na América eram Baldwin. Os
outros fabricantes, temerosos, se uniram e formaram a American Locomotive
Company – ALCo., e então ficaram duas grandes companhias concorrentes.
Os anos passaram, vieram as locomotivas elétricas da General
Electric, muito mais eficientes, mas devido à complexidade da estrutura de uma
linha eletrificada, as locomotivas a vapor continuaram a ser maioria absoluta.
Porém, em meados do século XX, as locomotivas a diesel começaram a tomar cada
vez mais espaço nas ferrovias americanas, e enquanto a Baldwin, absoluta, ainda
achava que as máquinas a vapor continuariam sendo as melhores opções, a ALCo se
uniu à GE para juntas produzirem locomotivas a diesel, a primeira fornecendo os
equipamentos mecânicos, e a segunda, os elétricos.
A Central do Brasil iniciou sua dieselização com máquinas da
ALCo, comprando quatro pequenas locomotivas modelo S-1 (“S” = Switcher =
Manobreira) nos anos quarenta, por conta da dificuldade de importar carvão.
Devido ao desempenho satisfatório, a EFCB comprou ainda na mesma década mais 38
locomotivas maiores, as RS-1 (Road-Switcher, locomotivas para todo serviço).
Uma pequena S-1, representante da primeira geração de locomotivas a diesel da Central.
O volume de cargas aumentava, e nos anos 50 a EFCB necessitava
de locomotivas mais potentes. Nessa época a GE estava desenvolvendo um motor
novo, denominado 244, com 12
cilindros em “V”, e que desenvolvia em torno de 1600HP. Devido às enormes
encomendas do mercado interno dos EUA, os outros fabricantes de locomotivas a
diesel estavam no limite da capacidade. A própria ALCo também tinha muito
serviço, mas aceitou a encomenda da Central do Brasil através de sua planta no
Canadá.
Dupla de RS-3.
Para a Central, as diesel-elétricas foram uma maravilha,
pois operavam em unidades múltiplas, e eliminavam dois dos maiores temores dos
maquinistas da época, em relação a acidentes com locomotivas a vapor – explosão
da caldeira, ou morrerem escaldados com a água fervendo da mesma, em caso de
descarrilamento. Outra vantagem, de ordem econômica, era a eficiência por terem
tração elétrica, sem necessidade das custosas obras de infraestrutura
necessárias para as locomotivas puramente elétricas, embora essas últimas
tivessem o preço e a manutenção mais baratas. Criou-se então uma situação
inusitada no parque de tração da EFCB: três modelos distintos de locomotiva,
com a mesma “alma”, o motor 244.
FA-1:
Duplex de FA-1 com o Santa Cruz em Roosevelt, SP. Ao fundo outra FA-1.
As FA-1 foram as primeiras locomotivas com motor 244 no
Brasil. Compradas em 1948, juntamente com as últimas quatro RS-1 e com as elétricas
Escandalosas, tinham um perfil
aerodinâmico que lhes rendeu o apelido de Biribas,
em homenagem ao cachorro mascote do time de futebol Botafogo.
Foram compradas 12 unidades, que tracionavam trens de passageiros
e cargas. A partir de 1950, com a chegada dos carros de aço inox dos expressos Santa Cruz e Vera Cruz, tornaram-se as locomotivas principais para esses dois
trens. Utilizavam a primeira versão do 244, que apresentou alguns problemas,
como trincas e superaquecimento. Por conta disso, sofreram mais com o passar
dos anos do que os outros dois modelos. Atualmente só existe uma, em avançado
estado de deterioração, numa das plataformas da estação Barão de Mauá, no RJ.
RS-3:
RS-3 em Roosevelt. Elas já vieram com pintura azul e amarelo, e o escudo pintado na cabine, ao invés do famoso brasão em bronze.
As Road-Switcher
RS-3 vieram para fazer trens de carga, embora fizessem esporadicamente trens de
passageiros. Foram apelidadas de Canadenses,
pelo fato de algumas terem sido feitas naquele país. Na Serra do Mar cumpriram seu
dever magistralmente, puxando em duplex composições de 1000 toneladas, o
equivalente às Escandalosas, que sofriam de baixo peso aderente, embora bem
mais potentes.
Foram compradas 48 unidades em 1952, e até hoje alguns exemplares
funcionam como trens de manutenção das linhas de subúrbio, tanto no RJ quanto
em SP. Devido ao desempenho das FA-1, os motores 244 das RS-3 vieram com
modificações, o que garantiu tamanha confiabilidade e robustez.
As 244 “Híbridas” da bitola métrica:
Triplex de 244 Híbridas. Note o escudo em bronze debaixo da janela da cabine.
Essas locomotivas surgiram de uma série de questões
referentes à dieselização da parte norte das linhas da Central do Brasil a
partir de Belo Horizonte, que eram em bitola métrica e contavam com sérias
restrições de gabarito. Deviam ser capazes de tracionar até 440 toneladas em
rampas de 2,5% e curvas de míseros 80 metros de raio. A GE apresentou uma
solução capaz de cumprir todos esses requisitos, e ainda utilizando o motor 244
das locomotivas de bitola larga, o que facilitaria em muito a manutenção, uma
vez que todo o parque da EFCB seria padronizado.
Nessa imagem, é possível ver uma Híbrida ainda com a pintura azul e amarelo, que logo seria substituída pelo padrão da RFFSA.
As máquinas, sem nome específico de modelo, vieram em 1953,
um ano depois das RS-3, e receberam o apelido de Híbridas por serem parte ALCo e parte GE. Vinham com truques de 3
eixos, que para melhor se inscreverem em curvas tão apertadas contavam com um
curioso sistema que agia como uma espécie de “pêndulo”, especialmente
desenvolvido para a linha. Mesmo assim, tiveram problemas de descarrilamento, e
retificações na linha tiveram de ser feitas. Devido o uso de componentes
mecânicos aproveitados das locomotivas maiores de bitola 1,60m, as Híbridas
apresentavam a curiosa característica de serem mais altas que as outras
locomotivas a diesel de bitola métrica, como as G12 e as U12B.
A diferença de altura entre a G12 e a Híbrida.
Trabalharam exclusivamente na chamada linha do sertão, a
parte métrica da EFCB, embora algumas raras vezes tenham feito trens de
passageiros na Vitória a Minas. Hoje em dia existem apenas três funcionando,
uma servindo a uma fábrica de cimento em Montes Claros, uma na fábrica da GE em Contagem, e outra em uma metalúrgica
em João Monlevade, todas em MG.
Nessa foto é bastante claro o aspecto geral da 244 Híbrida, inclusive as "pinças" do sistema de inscrição em curvas dos truques.
FA-1 com o Santa Cruz em Lorena, SP.
Acima e abaixo: RS-3 com trem de carga.
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